ANTROPOLOGIA - ÍNDIOS - AMBIENTE

quinta-feira, 31 de março de 2011



Hoje, dia 31 de março de 2011,  um pouco de poesia....


    OUÇA

Ouça, me ouça, quero falar,
Falo desde aqui, de onde estou,
Hoje, agora. Ainda estou.
Desde aqui, falo a todos vocês.
Aos humanos e aos desumanos, também.
Aos grandes: elefantes, árvores.
Aos minúsculos. Vírus, inclusive.

Falo aos viventes, que vivem,
Que sofrem, que sentem,
Mais calidamente falo, confesso,
A meus irmãos humanos,
Aos homens, às mulheres, às crianças todas,
Aos jovens na glória de viver uma vida nova,
À gente madura, aos velhos, que nem eu.

Não falo em nome de ninguém. Nem de nada.
Não sou voz de instituição nenhuma.
Falo com a só autoridade de ser vivo,
Com o senso de quem já viveu
Quase toda a sua vida por viver.
Sou a voz da velhice, contente por ter vivido.
Que só quisera viver mais, muito mais.

A todos vocês, inumeráveis seres,
Que, tal como eu, em breve serão coisas,
A todos vocês, digo: viva a vida.
A vida que estamos vivendo, ainda,
A vida que nos esvai, inexorável.
A vida, que transmitimos a outros,
Para prosseguir, vivendo, morrendo,
A todos vocês, falo e digo: viva a vida.
Me vou, adeus. Gostarei demais de ter sido.
Saudades.

(Darcy Ribeiro)